A resistência dos sebos: alternativas ao público leitor
Fonte: Égua do Livro |
Por: Wesley Ribeiro
Certo dia, após finalizar uma reunião on-line com minha colega de pesquisa, a mesma confidenciou que estava indo comprar alguns livros em uma livraria localizada em um shopping no centro de Belém. Segundo ela, comprar livros físicos é uma forma de incentivar e apoiar as livrarias, uma vez que elas estão fechando por falta de clientes, que estão cada vez mais aderindo a outras alternativas aos livros físicos.
Fiquei reflexivo com o comentário e retribui a fala dizendo: “É verdade, eu mesmo só costumo comprar livros físicos, mas prefiro comprar online, pela Amazon ou outros sites”. Depois disso, me veio à cabeça uma menor escala de análise que vem sendo relegada cada vez mais: os sebos de livros de Belém estão passando por problemas semelhantes às livrarias: a falta de clientes. Mas, diferente das livrarias de grupos empresariais, os sebos sofrem carências em sua infraestrutura, bem como questões monetárias. Além disso, são mais sucateados, visto que não há um investimento do capital financeiro e/ou fomento governamental, sendo, na sua grande maioria, independentes, diferente do que acontece com as grandes livrarias.
Um outro elemento que vem contribuindo para o fechamento de livrarias e, inclusive, dos sebos, é o preço elevado dos livros, sendo um entrave para uma boa parcela da população na hora de adquirir um exemplar. Esta situação acaba por apresentar outras alternativas para o público consumidor: livros digitais, na sua grande maioria, gratuitos em forma de PDF e disponibilizados na internet.
Caminhar por Belém é observar na paisagem urbana, uma esquina ali, outra aqui, um sebo de livros. Não mais como antes, levando em consideração o fechamento dos mesmos. Novos ou velhos, no sentido de temporalidades, eles ainda estão ali, de forma tímida, à disposição dos interessados. Por oferecerem preços mais acessíveis e leituras, em alguns casos, “raras”, no sentido de não serem de fácil acesso, os sebos ainda disponibilizam uma variedade de exemplares para o leitor, além de se configurarem como ambientes intimistas e acolhedores. Os vendedores ou proprietários de sebos costumam ser simpáticos e cheios de conhecimentos e indicações de obras, algo de inestimável valor.
Pensar o sebo como uma alternativa ao público leitor, é pensar, antecipadamente, em uma garantia e perpetuação de sua existência. Para isso, é necessário não só visibilizar a espacialidade dos sebos de Belém, mas também ajudá-los financeiramente por meio da aquisição de uma obra. De Marx a um gibi da turma da Mônica, uma coisa é certa: ao adquiri-las, certamente estaremos contribuindo para a preservação de um espaço de estímulo à formação de leitores, uma alternativa a todos e todas que sentem prazer e satisfação em adquirir e folhear livros físicos, pavimentando, ainda que de forma emergente, uma possível cultura dos sebos.
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