Da crise climática a crise Política: o caso do Rio Grande do Sul

Fonte: O Tempo

 Por: Wesley Ribeiro

O estado do Rio Grande do Sul (RS) passa por uma das piores experiências com eventos climáticos extremos em toda sua história, tendo uma boa parte de seu território submerso por conta das fortes chuvas das últimas semanas, deixando, até então, 161 pessoas mortas e centenas de milhares de pessoas feridas e desabrigadas. Além das perdas humanas e materiais, ainda há centenas de animais mortos ou esperando por resgate.

As inundações que afetam o estado já podem ser consideradas uma das piores da história do RS e do país, todavia, não é a primeira vez que o território gaúcho é afetado por fortes chuvas e inundações. Ao longo da história, especificamente em 1941, o estado foi atingido por um excesso de chuva, levando-o, então, a ficar submerso. Essa cheia ficou conhecida como a cheia histórica de 1941 na bacia hidrográfica do Guaíba. Após esse período, medidas foram tomadas para tentar evitar que episódios semelhantes viessem acontecer, entretanto, não foram suficientes.

Analisar a atual conjuntura climática do Rio Grande do Sul nos leva a vários apontamentos, uma vez que vários fatores se fizeram presentes até chegarmos a esse ponto de calamidade ambiental. É evidente que a chuva faz parte de um processo hidrológico natural, além das condições geomorfológicas do relevo gaúcho. Esses dois fatores estão diretamente associados para tentarmos compreender o que vem acontecendo no estado. Ambos os processos são naturais, entretanto, estão sofrendo influências externas das ações humanas. Isso significa dizer que as fortes chuvas que inundaram o RS e encheram as bacias hidrográficas - que estão localizadas na parte mais alta do relevo do território gaúcho - podem estar diretamente ligadas ao desmatamento na região, com ênfase para o domínio morfoclimático da pampa, sendo um dos elementos que intensificam a alteram todo o processo que deveria ser natural. Porém, culpar apenas a natureza pelo que vem acontecendo no RS parece ser uma tentativa de isenção dos verdadeiros culpados. As ações antrópicas causadas pelo homem no meio ambiente e o descaso da política institucional gaúcha, que segue uma agenda (neo)liberal de enfraquecimento e desmonte do Estado e de mais de 500 normas do código ambiental, por exemplo, se apresentam como umas das principais culpadas do desastre ambiental anunciado que estamos presenciando.

Nesse sentido, pensar alternativas coletivas que possibilitem um horizonte futuro sem uma degradação ambiental e subversão das múltiplas territorialidades que estão no interior não só do território gaúcho, mas do Brasil todo, é pensar, também, articulações e reivindicações no campo da política institucional e de um modelo econômico que seja menos letal para o meio ambiente.

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