Procura-se

Fonte: Jovem Pan

 Por: Mauro Lopes Leal

Passei em frente a uma banca de jornal, uma das poucas que sobraram em Belém. Na lateral, um aviso: Procura-se. Alguém havia perdido um cachorro e agora o procurava desesperadamente. Parei para ler. “Atende pelo nome de Tobi. Tem 4 anos. Fugiu de casa há uma semana. Raça: Vira-lata. Deixou uma criança triste. Quem puder ajudar, telefone (91) 98.... abaixo, uma foto de um cãozinho, colorida. Vira-latinha, marrom, de orelhas caídas, olhar traquina, de quem havia acabado de correr pelo quintal levando entre os dentes uma sandália velha.

Interessante. As informações ali contidas diziam mais do que queriam. E isto me intrigou. Geralmente, tais perdas se referiam a animais de raça, como um poodle, pug ou yorkshire terrier. Bem raro a busca por um cão de raça considerada menos nobre ou não pertencente à realeza canina. Toda aquela busca para encontrar o animal perdido era, desse modo, bastante louvável. Tobi devia ser, portanto, amado naquela família, o que me deixou emocionado. Em nossa sociedade da inconsistência, cujo desapego é uma constante e o egoísmo uma força avassaladora (lembrei-me de Bauman), chorar por um pequeno cachorrinho era algo singelo.

Tobi, como evidenciava a foto, era pequeno, talvez três palmos de largura. Teria passado pela fresta do portão ou, diante do vacilo de sua dona ou de algum adulto, ganhou a liberdade? Queria fugir de fato ou aproveitou a ocasião para ver novas paisagens? Quem sabe não queria, de fato, escapar, pois não havia necessidade, mas o portão aberto é algo sedutor demais. Tobi viu-se impelido a ir. E foi. Por onde andará esse aventureiro dos bairros belenenses?

Terá encontrado um lar e outras pessoas que o amem tanto quanto aquela garotinha que chora por ele há uma semana? Talvez já esteja arrependido de ter fugido, mas não soube voltar. Sou solidário. Se pudesse, ajudaria de alguma forma. Mas algo estala dentro de mim. Consulto o relógio. Atrasado. Saio quase correndo em direção à parada. Esqueço o vira-lata, a garotinha, e corro atrás do primeiro Marambaia que me serve. Sociedade líquida.

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