O Círio de Nossa Senhora de Nazaré: Tradição e História
Fonte: Fundação Nazaré de Comunicação |
Por: Vanessa Lima
No último domingo, 13 de outubro, ocorreu a 232ª edição do Círio de Nossa Senhora de Nazaré, reunindo mais de dois milhões de fiéis, os quais acompanharam a procissão, que partiu da Catedral Metropolitana de Belém em direção à Basílica Santuário de Nazaré. O Círio, amplamente conhecido como o "Natal dos paraenses", é um dos maiores símbolos da identidade cultural do estado do Pará. Mas como surgiu essa tradição de mais de dois séculos?
De acordo com um dos relatos mais conhecidos sobre o achado da imagem, no século XVIII, um lavrador chamado Plácido José de Souza encontrou, nas margens de um igarapé, no final do mês de outubro, uma imagem de uma mãe segurando seu filho nos braços. A figura, coberta por um manto, trazia consigo um papel com a inscrição: "Nossa Senhora de Nazaré do Desterro". Acreditando que a imagem poderia pertencer a um peregrino a caminho do Maranhão – já que muitos viajantes paravam naquela região para beber água – ou a algum cristão que, ao ser surpreendido por indígenas, teria deixado a imagem para trás, Plácido levou a estatueta para sua casa e a colocou em um pequeno altar de miriti, junto a um crucifixo e outras imagens de santos de sua devoção.
Contudo, no dia seguinte, a imagem havia desaparecido e foi novamente encontrada por Plácido no mesmo local onde fora originalmente achada. Os relatos sobre o evento se espalharam pela região, chamando a atenção das autoridades civis e eclesiásticas da época. A imagem foi então levada ao Palácio do Governo, para o Paço Episcopal e, em seguida, a recém-construída Catedral de Belém. Porém, em todas essas ocasiões, a estatueta desaparecia e reaparecia no local onde havia sido encontrada pela primeira vez.
Interpretando os eventos como um sinal divino de que a imagem deveria permanecer no lugar de seu achado, Plácido decidiu construir uma pequena capela para abrigá-la. Esse local é onde se encontra hoje a Basílica Santuário de Nazaré.
O primeiro Círio ocorreu em 8 de setembro de 1793, marcado pela celebração de uma missa e realização de uma grande procissão, considerada o marco inicial dessa tradição. O evento foi organizado em cumprimento a uma promessa feita pelo capitão-geral do Rio Negro e Grão-Pará, Francisco de Souza Coutinho. O capitão, gravemente doente, temia não poder inaugurar uma feira agrícola marcada para a mesma data e, ao se recuperar, cumpriu a promessa de mandar buscar a imagem de Nossa Senhora de Nazaré no Palácio. Após a missa, presidida pelo capelão Padre José Ruiz de Moura, a imagem foi levada em procissão até a capela construída por Plácido.
No dia da procissão, a imagem foi transportada em um palanquim azul pelo capelão, acompanhada pela guarda nobre e pela cavalaria. O cortejo contou com a presença do capitão-geral, do Cabido Diocesano, vereadores da Câmara, membros das Casas Civil e Militar, além de uma multidão de devotos, estimada entre 5 e 10 mil pessoas, incluindo brancos, indígenas e negros. Ao chegar à ermida, foi celebrada uma segunda missa, seguida pela bênção da pedra fundamental para a construção de uma nova ermida, feita de pedra e cal.
O Círio de Nazaré é, até hoje, um dos momentos mais importantes para o estado do Pará, não apenas pela sua dimensão religiosa, mas também pelo impacto econômico e turístico que proporciona. Além de simbolizar devoção à padroeira do estado, a festividade é um momento de união, gratidão e solidariedade, promovendo a aproximação entre os fiéis pela fé comum.
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