A era da vigilância

Fonte: Pixabay



 Por: Wesley Ribeiro


Quinta feira a noite, aula de Espaço Amazônico. Professora inicia a aula, debates vão tomando conta do Laboratório de Geografia. Contribuo com o debate a partir de algumas colocações teóricas oriundas de livros que li ao longo da graduação – obrigatórios e por prazer –.

Pausa na aula: é hora do intervalo. Rapidamente, nos deslocamos para a fila do jantar, no andar de baixo da instituição. Fila grande, papo vai, papo vem. Servidos, finalmente. Sopa quente acompanhada por um diálogo com um amigo de curso sobre a atual conjuntura política brasileira. Otimismo e pessimismo se entrelaçam.

Um colega de turma chega no fim do intervalo: já são 20:30h! Estávamos acabando a refeição e retornando para o Laboratório de Geografia para continuarmos a aula. Com o retorno da mesma, novos debates surgiram. Desta vez, sobre como o território é influenciado pelos agentes que estão em seu interior.

Mais uma vez contribuo para a discussão. A professora foca em alguns temas específicos e dialoga com alguns alunos que estavam sentados nas primeiras mesas localizadas no início da sala. Eu estava sentado no fim da sala, com mais dois colegas.

Imerso em uma era tecnológica a qual não consigo ficar sem o celular, por mais exagerado e problemático que isso pareça, peguei para verificar a barra de notificações com a esperança de me deparar com a mensagem de uma pessoa específica. Infelizmente, não havia a mensagem esperada – ao menos naquele momento –.

Não satisfeito, entro no Instagram para ver o que as pessoas estavam postando em seus feeds e storys. De repente, recebo uma mensagem no WhatsApp de uma amiga que estava sentada a 5 metros de mim. Sim! Ao invés de falar pessoalmente, ela me mandou mensagem. Com toda sua bondade, ela me perguntou se eu gostaria de acessar a conta dela de uma determinada plataforma de streaming voltada para filmes e séries.

Com todo o entusiasmo por conta da mensagem, respondi: “EU QUEROOO”. No entanto, eu não sabia quais tipos de filmes e séries haviam na plataforma. Com isso, em tom de brincadeira – mas torcendo para que fosse verdade – perguntei: “tem Winxs?”. Ela não responde, pois começamos a conversar um outro assunto.

E-mail e senha anotados para o login, baixo o aplicativo da tal plataforma e bloqueio o celular. Frank Ocean na tela de bloqueio: quanto gosto deste artista! Volto a dar atenção para a aula. Debates sobre território e territorialidades rolando: continuo interagindo.

Sem perder o vício de dar uma espiadinha no celular a cada 5 minutos, pego-o novamente para dar uma olhada, mais uma vez, no Instagram. Storys vão, storys vêm, e, ao passar o story de um amigo, me deparo com um anúncio da tal plataforma. Me choco e, internamente, me questiono sobre o capitalismo de vigilância e seu modus operandi. Guardo a informação só para mim, assino a frequência e espero o término da aula.

Fim da aula, todo mundo correndo para não perder os últimos ônibus. Me levanto e comento com a mesma amiga: “Menina, os algoritmos acabaram de agir comigo”. E continuo: “Mal conversamos sobre a plataforma e eles acabaram de me recomendar sobre ela nos storys do Instagram”. Nesse momento, desbloqueie meu celular e mostrei a prova da vigilância de dados.

Ela, por sua vez, profere: “Essas Bigs Techs canalhas”. Em tom de brincadeira – mas nem tanto –, continua: “Esse Mark Zuckerberg canalha”. Eu complementava a fala: “Eles vendendo meus dados pra essas empresas, esses canalhas”. “São esses capitalistas de vigilância”. Gargalhadas enquanto nos deslocávamos para a saída do laboratório.

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