Celular em sala de aula: proibir ou integrar?
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Fonte: ES Brasil |
Por: Sofia Sacramento e Breno Alencar
É proibido fumar
Diz o aviso que eu li
É proibido fumar
Pois o fogo pode pegar
Mas nem adianta o aviso olhar
Pois a brasa que agora eu vou mandar
Nem bombeiro pode apagar
Nem bombeiro pode apagar
Você acaba de ler a letra de uma canção composta por Roberto Carlos e Erasmo Carlos em 1964. Provavelmente em seu smartphone, mais conhecido como celular.
Mas será que você já ouviu essa música? É um rock? Axé? Rap? Pesquise. Pesquise também o contexto em que ela foi escrita. Você vai se surpreender.
Ficou curioso né?
Pois bem... Se você chegou até aqui então roubamos um pouco da sua atenção, ou seja, te distraímos, te entretemos e conseguimos vencer a competição com o feed do Instagram - que em alguns minutos você vai voltar a rolar.
E esse é o ponto central de um debate que tem mobilizado a sociedade brasileira e mundial: a distração e as consequências correlatas produzidas pelas tecnologias digitais na sala de aula.
Enquanto alguns defendem a proibição total desses dispositivos no ambiente escolar, outros acreditam no seu potencial como ferramentas educativas. Com o avanço das tecnologias digitais e seus impactos na educação e na saúde dos jovens, países ao redor do mundo adotam diferentes estratégias para lidar com essa questão complexa.
Na França, desde 2018, estudantes de até 15 anos estão proibidos de usar celulares nas escolas. A medida busca melhorar o desempenho acadêmico, prevenir o cyberbullying e promover um ambiente social mais saudável. Autoridades francesas destacam que o excesso de tempo de tela pode reduzir a qualidade do sono e aumentar a ansiedade entre os jovens, justificando a necessidade de proteger o ambiente escolar dessas influências negativas.
Nos Estados Unidos, a abordagem varia. Estados como Indiana e Louisiana implementaram o uso de bolsas de bloqueio para celulares durante o horário escolar, visando limitar distrações e aumentar a concentração dos alunos. Contudo, essa estratégia levanta debates sobre a autonomia dos estudantes e sua preparação para um mundo cada vez mais digital.
A Alemanha apresenta um equilíbrio no debate. Algumas escolas optam pela proibição dos celulares, enquanto outras os integram em atividades pedagógicas, reconhecendo que, quando bem utilizados, os smartphones podem enriquecer o aprendizado. Essa postura ressalta a importância de educar para o uso consciente da tecnologia, em vez de simplesmente restringi-la.
Na China, a política é semelhante à francesa, restringindo o uso de celulares nas escolas para combater impactos negativos no desempenho acadêmico e na saúde mental. Pesquisas indicam que jovens chineses enfrentam problemas como baixa qualidade do sono, aumento da ansiedade e dificuldades cognitivas associadas ao tempo excessivo de tela.
Estudos, de fato, têm documentado os efeitos do uso de smartphones no ambiente escolar. Entre eles, a distração, queda no desempenho acadêmico, problemas de saúde mental e redução na capacidade de concentração. Felisoni e Godoi (2018) apontam que apenas 10 minutos de uso do celular durante uma aula podem impactar negativamente o desempenho do aluno.
Por outro lado, quando utilizados para fins educativos, os dispositivos podem enriquecer o aprendizado e promover a inclusão digital, especialmente entre estudantes de baixa renda.
No Brasil, o tema é alvo de debates. Enquanto projetos de lei propõem a proibição do uso de celulares em sala de aula, pesquisas sugerem que o impacto desses dispositivos depende de fatores como motivação e contexto social dos alunos. Essa flexibilidade é considerada essencial para abordar as particularidades do ambiente educacional brasileiro.
Resta saber: proibir é a solução? Ela até pode oferecer uma solução rápida para as distrações, mas não prepara os jovens para usar a tecnologia de forma responsável. Aliás, quando se trata da juventude, proibir nunca foi solução para nada, como bem ressaltam Erasmo e Roberto Carlos em sua canção. Muito pelo contrário, proibir sem educar é um convite a curiosidade e a transgressão.
O melhor, é sempre o diálogo e estratégias de integração que envolvam planejamento e formação dos educadores, que somados às tecnologias já existentes e emergentes se tornam aliados poderosos do aprendizado.
Em nossa opinião, o dilema dos smartphones na sala de aula não possui uma solução única. Ele reflete nossa dificuldade em lidar com mudança de rotina, sobretudo no ambiente escolar, onde atenção parece significar aprendizado.
As políticas educacionais devem, portanto, considerar não apenas os aspectos negativos, mas também as oportunidades que esses dispositivos oferecem. Proibir sem educar é ineficaz; integrar sem critério é irresponsável. O desafio está em encontrar o equilíbrio entre restrição e uso consciente, preparando os jovens para um mundo onde a tecnologia é onipresente, mas nem sempre benéfica.
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