O desafio da Matemática

Fonte: Instituto de Ciências Exatas


 Por: Rebeca Martins


Ao percorrer pelos corredores, salas, fila da cantina e até mesmo pelo banheiro do IFPA-Campus Belém, é possível perceber algo em comum: as reclamações sobre a dificuldade acadêmica. Sabe-se que a Instituição apresenta um ensino desafiador, tanto nos cursos técnicos quanto na graduação. No entanto, nas disciplinas de exatas, especificamente a Matemática, essa dificuldade é mais acentuada. A situação é tão preocupante que até os próprios professores apontam o baixo desempenho e a dificuldade dos alunos em absorver os conteúdos da disciplina. Mas, afinal, o que está por trás desta realidade? E o que ela revela não apenas sobre o IFPA, mas sobre a educação no Brasil como um todo?

A Matemática exige uma base sólida de aprendizado, e quando essa base é prejudicada, o impacto se estende a toda a formação educacional do estudante. Isso ocorre porque, sem fundamentos adequados, torna-se cada vez mais difícil absorver conteúdos mais avançados. Essa realidade é evidenciada pelos resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) 2022, que revelou que 73% dos estudantes brasileiros apresentaram baixo desempenho em Matemática básica (abaixo do nível 2). Esse nível é considerado, pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o mínimo necessário para que os jovens possam exercer plenamente sua cidadania. Os resultados do PISA evidenciam uma deficiência estrutural e pedagógica no sistema educacional brasileiro, especialmente para as parcelas da população de menor poder aquisitivo. Esse cenário contribui para uma desigualdade no aprendizado entre alunos das redes de ensino pública e privada.

Além das questões estruturais, há também problemas relacionados à metodologia de ensino. Desde a abordagem do professor até a forma como a disciplina e os conteúdos são apresentados, diversos fatores contribuem para o baixo desempenho dos alunos. Muitas vezes, a Matemática é ensinada de maneira excessivamente metódica, sem dar espaço suficiente para o desenvolvimento do raciocínio lógico, que é tão importante quanto a simples obtenção de respostas corretas. Pesquisas apontam que a disciplina é frequentemente rejeitada pelos estudantes, refletindo uma cultura de desinteresse e falta de apreço por parte dos próprios alunos.

Por outro lado, Pedro Henrique, aluno do 1° ano do Ensino Médio do Curso de Recursos Pesqueiros, destacou como a OBMEP oferece uma oportunidade para que alunos com habilidades excepcionais nas áreas de exatas se destaquem. Ele também mencionou que um colega seu, que mesmo tendo estudado em escola pública durante o Ensino Fundamental, tem obtido bons resultados por conta própria, o que demonstra o potencial de muitos estudantes quando têm a chance de se aprofundar em seus conhecimentos.

Em entrevista realizada no dia 4 de junho de 2024, com alguns estudantes do Ensino Médio e Técnico Integrado do IFPA Campus Belém, após a aplicação da primeira fase da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP), a aluna Fernanda, que cursa o 3° ano do Ensino Médio no curso de Química, relatou que a prova não foi difícil por exigir conhecimentos aprofundados, mas pelo formato, que demanda uma lógica mais complexa. Segundo ela, esse tipo de abordagem é pouco explorada no ensino tradicional. Já Cilas, também do curso de Química, afirmou que o desenvolvimento do raciocínio lógico poderia ser mais eficiente para os alunos, se o ensino fosse mais voltado para a prática e a resolução de cálculos, em vez de se concentrar apenas na quantidade de conteúdo abordado e em aulas longas e repletas de informações.


Em resumo, as dificuldades acadêmicas enfrentadas pelos alunos do IFPA, especialmente em Matemática, refletem desafios mais amplos da educação no Brasil, como a falta de uma base sólida e a metodologia tradicional de ensino, que não favorece o desenvolvimento do raciocínio lógico. No entanto, iniciativas como a OBMEP se mostram essenciais para identificar e incentivar talentos nas exatas, mostrando que um ensino mais voltado para a prática e resolução de problemas pode ajudar a superar essas dificuldades. Repensar a abordagem pedagógica, focando no estímulo ao pensamento crítico, pode ser a chave para melhorar o aprendizado e garantir uma educação mais eficaz e inclusiva.

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