Resenha sobre o livro "A bolsa amarela"

Fonte: a bela do dia



 Por: Lívia Suenne


Sabemos que o Enem passou, mas o JD gostaria de ampliar ainda mais os repertórios dos leitores com uma dica literária muito em alta nas últimas semanas. O livro “A bolsa amarela” foi escrito pela autora gaúcha Lygia Bojunga em 1976 e publicado pela Editora Casa Lygia Bojunga (@casalygiabojunga), uma ação oriunda da intenção de reunir na casa os personagens da autora. Vale mencionar O Meu Amigo Pintor, A Casa da Madrinha, Tchau, Os Colegas, Corda Bamba, Seis Vezes Lucas, entre outros. Ao todo a escritora, atriz, tradutora e autora em rádio, teatro e televisão brasileira Lygia Bojunga Nunes nascida no Rio Grande do Sul e criada em solo carioca soma 23 títulos, em que foi a primeira escritora premiada internacionalmente com o Prêmio Hans Christian Andersen e a primeira fora do eixo Estados Unidos e Europa. Em 2006, foi publicada a 33ª edição do romance/conto que soma 135 páginas, divididos em 10 capítulos. 

A história protagoniza o cotidiano de Raquel, uma menina que ao longo de toda história vive com três vontades: ter nascido garoto, ser gente grande e tornar-se uma escritora. Ao longo da narração, Raquel entra em conflito consigo mesma e com sua família por ouvir diversas vezes que “criança não tem querer” e trilha um caminho de grandes descobertas, autoafirmação e desconstrução de uma realidade que ela achava ser a única e “chata”. 

A bolsa amarela surge mais à frente, quando chega junto com o embrulhão enviado pela tia Brunilda. Daí por diante, a aventura com personagens fictícios escritos por Raquel que logo assumem seu lugar na história e dentro da bolsa amarela desenrola-se de modo engraçado, reflexivo, crescente e cheio de aprendizados acerca de quem somos e de quem podemos ou queremos ser. Embora o público alvo seja infantojuvenil, a impressão da história ter sido escrita de modo a respingar ao público mais velho é perceptível. 

Além disso, em vários momentos, a menina contesta a estrutura hierárquica familiar e se coloca contra ela. A inegável evolução de Raquel se faz presente ao longo do conto que, ao final, ressignifica o peso de carregar os personagens (literalmente) e seus respectivos problemas. Deles e de Raquel. “A bolsa amarela” foi traduzido para vários idiomas e encenado em teatros do Brasil e da Bélgica; recebeu o prêmio “O melhor para a criança” da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil e foi incluído na lista de Honra do IBBY (International Board on Books for Young People).

A obra, que foi publicada em meio à repressão da ditadura militar, ganhou destaque este ano nas plataformas X e no TikTok pelos internautas que o intitularam “aquele livro infantil que todos deveriam ler”. Entretanto, o título foi alvo de perseguições em Agosto de 2019 pelo então vereador Clayton Silva (PSC) da cidade de Limeira, no interior de São Paulo, tentou retirá-lo das bibliotecas escolares, sob a alegação de que a obra abordava "ideologia de gênero".  No entanto, a Secretaria de Educação da Cidade negou o pedido após a Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil (AEILIJ) defender o livro com a seguinte declaração: “Como entidade que congrega Autores de texto e imagem, a AEILIJ vê com grande preocupação a tentativa de censura e intimidação desses educadores quanto ao exemplar trabalho realizado com a obra A Bolsa Amarela, de Lygia Bojunga Nunes

Apesar de sofrer com perseguições e preconceitos dentro e fora do Brasil, os exemplares continuam trazendo nostalgia nas gerações antigas e despertando paixões nas atuais. A autora completou 92 anos em Agosto de 2024 e continua eternizando positivamente cada vez mais o impacto em seus fieis leitores.

Acompanhe as próximas edições do JD para mais resenhas e indicações de qualidade!

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