O passado, que assombra o presente, assombrará o futuro
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Fonte: David Amiel/Portal Grabois |
Por: Wesley Ribeiro
A expansão do sistema capitalista, sobretudo no contexto da América do Sul, foi acompanhada de características específicas que assombram o presente até os dias de hoje. Em um dos panfletos mais famosos da história da política moderna — e, correndo o risco de ser pretensioso, arrisco a dizer que até da história da humanidade —, Karl Marx e Friedrich Engels, no clássico Manifesto do Partido Comunista, ao analisarem a luta de classes no contexto europeu, apontam que um fantasma assombra a Europa. Mas que fantasma seria esse? O fantasma da luta de classes.
No contexto sul-americano, o fantasma do passado também se faz presente, todavia, com suas particularidades históricas e geográficas, mas ainda assim colocando em jogo o futuro da humanidade e das humanidades em defesa de seus interesses econômicos. Para se analisar a realidade brasileira, há de se considerar o processo de invasão que desencadeou séculos de trabalho escravo da população negra e indígena, deixando resquícios até os dias de hoje.
Ainda que vivamos em uma democracia eleitoral, como aponta o jurista Alysson Mascaro, esse tipo de democracia vem cada vez mais mostrando suas fragilidades e sendo ineficiente no que diz respeito a contemplar, de fato, uma ampla participação da sociedade civil e todas as suas singularidades. Com isso, muitos grupos socialmente minoritários não são ouvidos, ficando cada vez mais à mercê da marginalidade, sem possibilidades de demandar políticas públicas que assegurem suas existências.
Isso é percebido de várias formas no território brasileiro: assassinato da juventude negra e periférica, expansão do agronegócio em terras indígenas, crimes de ódio contra pessoas LGBTQIAPN+, etc. São práticas que não acontecem de forma aleatória; pelo contrário, há uma gama de agentes no interior da promoção e fortalecimento dessas práticas. Há uma ascensão de uma extrema-direita contemporânea disputando o imaginário popular, as narrativas, a política institucional e promovendo uma defesa exacerbada da propriedade privada, mesmo que isso signifique comprometer o bem-estar de uma coletividade historicamente marginalizada pelo sistema imposto de forma vertical.
Na medida em que esses grupos, declaradamente pertencentes ao espectro político ideológico do campo da direita, ocupam cargos na política institucional, como nas câmaras legislativas e até mesmo no poder executivo, suas cosmovisões de mundo tendem a influenciar diretamente a efetivação ou a não efetivação de políticas públicas. Direitos que foram historicamente conquistados por grupos minoritários costumam ser comprometidos, e políticas de proteção ambiental passam por uma série de desmontes, abrindo fissuras para a exploração insustentável dos recursos naturais em seus interiores, causando impactos ambientais irreversíveis.
Para quem não está na centralidade da atual fase financeira do sistema capitalista, as coisas tendem a ser perversas, sendo compreensível o pessimismo em relação ao futuro, uma vez que as relações do presente tendem a assombrar o porvir. Refletir sobre a atual conjuntura do sistema capitalista, seus impactos e suas contradições é pensar em formas de organização que garantam, ainda que de forma tímida, um bem-estar social.
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