O Simpósio e o Desejo de Viver

Fonte: Veja SP


 Por: Rafael Kafka


Lembrava-se uma frase de Hatake Kakashi em Naruto: "A geração antiga sempre é superada pela nova geração. Essa é a lei do mundo." Pensava nisso com carinho enquanto via os trabalhos sendo apresentados no simpósio de literatura do grupo de pesquisa ao qual estava vinculado. Lembrava-se de sua própria turma de Letras ali no mesmo IFPA. Eram pessoas que, por exemplo, não eram muito afeitas à filosofia e pensavam em dar aula de literatura como professores de cursinho. 

De repente ele via uma série de autores bem interessantes sendo explorados. Até filmes como “O Pagador de Promessas” eram temas de trabalhos, e isso provocava nele um arrepio intelectual muito profundo. Sentia-se focado como nunca ajudando na organização do evento, prestando atenção às apresentações, fazendo perguntas e comentários. Ele tinha também um trabalho a apresentar, mas pensava que o ponto alto do evento para ele era o evento em si. 

Estava afastado do trabalho havia mais de um ano para tratar de questões psicológicas. Decidiu dedicar-se à vida espiritual e à acadêmica para suplantar seu sentimento de inutilidade e, nesse ínterim conheceu muita gente interessante e viveu muita coisa boa. Esse simpósio em si o fazia sentir vontade de ler mais, de ser mais, de trocar ideias, de escrever, de viajar e conhecer mais pessoas e teorias. 

Lembrou de seus tempos de graduando do IFPA quando emendava das aulas matutinas para o Centur e depois para algum cineclube para ver filmes de graça e debater ideias com gente que não conhecia. Sentia que ali havia algo que seria o sentido da vida: expandir-se sempre e mais no reino do conhecimento. Depois veio o trabalho, a depressão e ele sentiu que perdeu um pouco do rumo. Por isso, momentos como o simpósio eram valorizados por ele. Eram uma imersão no saber, na possibilidade de curar a dor emocional pela arte e pelo conhecimento. 

Apresentou seu trabalho e ficou satisfeito com seu desempenho. Fez amizades novas com gente incrível e se sentiu com mais vontade de chegar em casa e mergulhar nos livros. De repente, ele, que em alguns momentos pensou na morte como solução final, pensava nela como uma possibilidade lamentável. Havia tantos textos a serem lidos, tantos filmes a serem vistos, tantos diálogos a serem travados e a vida era apenas uma. Mais do que nunca ficou claro para ele que a cura do desejo de morrer era a possibilidade de conhecer, que somente uma sociedade que propiciasse o saber como possibilidade máxima seria capaz de se curar do desejo de morrer. 

Voltou para casa depois de dois dias de evento, cansado e satisfeito. Queria mais. Queria ser mais. Só pensava em tomar um café e se debruçar sobre Kafka e Thomas Mann. Estava plenamente feliz.

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