Fórmulas matemáticas


Por: Mauro Leal

Eu deveria ter sido um matemático!

Sim! Desses que fazem cálculos complexos e enchem o quadro inteiro com fórmulas complicadas. Iniciam as conferências com sentenças faraônicas e finalizam com 2567000.ax = 350000 y.

Eu deveria ter sido um grande matemático. Mas isso me foi furtado ainda na infância. Na quarta série a professora impôs: tabuada! Se errar, palmada na mão. Fiquei aterrorizado. Nos dias que faltavam para a minha sabatina, lancei-me em um nervosismo indisfarçável. 

Eu, que era um garoto alegre e brincalhão, passei a semana taciturno, mórbido, monossilábico. Minha mãe estranhou: o que tens? Eu disfarçava, alegava qualquer coisa, qualquer besteira, dor de barriga. Não queria falar para ela sobre aquela minha angústia, sobre a minha falta de intimidade com a tabuada, sobre o meu esquecimento dos números e como isso me transtornava, pois esta minha falta seria exposta na próxima semana, na frente de colegas de longa data (alguns eu conhecia desde a primeira série). 

Durante esses 4 anos, esforcei-me para criar a imagem de um garoto inteligente, esforçado e dedicado aos estudos. Essa imagem, essa máscara, seria deposta, brutalmente, na aula de matemática. O dia não demorou a chegar, pois o tempo, senhor implacável, não estagnou como eu havia pedido nas minhas orações e segunda virou terça, terça virou quarta e da quarta passamos para quinta-feira, dia da aula de matemática. 3 horários. A coisa toda seria longa. Tudo friamente planejado pela professora. Ela chamou o meu nome. Levantei-me com dificuldade, as pernas tremulantes, uma opressão na garganta, um desejo enorme de me tornar inseto, com asas, daqueles que voam ligeiro, Gregor Samsa belenense. Mas não me tornei nem inseto, nem barata, nem formiga, nem coisa alguma além de um estudante cujo conhecimento em tabuada era risível. A primeira pergunta errei, a segunda também. 2 bolos bem dados na palma da mão. A sessão de tortura terminou depois do que me pareceu um longo período. A sirene soou e fomos mandados embora. No regresso para casa, a vergonha, a revolta. Criei em relação à matemática uma espécie de aversão. Hoje me questiono: se não tivesse recebido as palmadas teria eu me engraçado com os números, com as fórmulas matemáticas? Talvez.

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