Matinta Perera
Fonte: Lenda Sombria Por: Mauro Lopes Leal Ela avançou sobre a noite, arrastando seus farrapos sobre as poças de água que refletiam uma lua vermelha, singular. Cães ladravam perto dos postes de luzes fragmentadas, farejando os passos daquela mulher que se confundia com as próprias sombras, tornando-se também elemento essencial de uma paisagem silenciosa, porém urbana. As casas, sonolentas, guardavam dentro de si trabalhadores fatigados, exaustos pelo serviço e exploração. Não havia tempo para sonho, devaneio, apenas repouso tumular, posto que a vida se tornou uma máquina, que range, oscila fumegante e produz de forma incansável. “Durmam”, sussurra a mulher de longa cabeleira negra. E suas unhas arranham os muros, os portões de ferro. Seus pés, desnudos, alternam-se ágeis, sombrios, entre vielas que traduzem uma soturna e estranha esperança. De quê? Impossível saber. Não há tempo para refletir, não há meios de se libertar. Daqui a meia hora a turba começará a se movimentar, enferma, dóc